O ‘resgate da gratidão’: busto homenageia Dr. Arnaldo Mazza na FAA
Publicado em: 10/11/2025
“Parece que o vento maneia o tempo.” A frase do livro “O Continente”, de Érico Veríssimo, talvez também se aplique ao espaço. Quando o Dr. Arnaldo Mazza foi homenageado com um busto na Fundação Educacional Dom André Arcoverde (FAA), no último mês de setembro, durante sua fala de agradecimento, um vento quente “varreu o microfone”, dando a sensação ao orador que seu clamor pelo exercício de uma medicina humanística era amplificado para todas as direções indicadas pela rosa-dos-ventos, chegando aos mais de 7 mil médicos formados no curso de medicina do Centro Universitário UNIFAA que, nos tempos de estudante de Mazza, chama-se Faculdade de Medicina de Valença (FMV), da qual foi o primeiro matriculado, não por acaso, mas em razão de sua decisiva contribuição para a criação, em 1968, da hoje quase sexagenária escola médica, que trouxe ventos de desenvolvimento para toda uma região.
Durante a justa homenagem, o Presidente da FAA, José Rogério Neto, foi enfático ao justificar aquele momento: “Estamos resgatando a gratidão!”. Agora, a imagem de Mazza está para sempre no Campus Saúde do UNIFAA, servindo de inspiração para todos que passam pela instituição. “Desde o nascimento, o homem tem um enigma: fugir ou lutar. Ou enfrenta e luta, e aí arca com essa demanda, ou foge, que é o mais fácil de fazer”, conta Mazza, que optou por lutar. E o tempo, tendo o esforço e a dedicação de diferentes gerações como cúmplices, vem testemunhando uma linda saga em Valença (RJ). Servindo de brisa para envolver as palavras de Arnaldo Mazza, foi realizada uma entrevista na qual ele comenta desde a alegria de ser homenageado, passando pelo cenário de criação da antiga FMV e fazendo questão de deixar uma mensagem aos colegas de profissão.
Pergunta 1: O Centro Universitário UNIFAA já formou milhares de médicos desde a sua criação. Como o senhor se sente por ter sido o primeiro aluno matriculado no curso de Medicina e por ter lutado muito por isso?
Arnaldo Mazza: Mas muito, muito. É com imensa satisfação interior que se constata que a realização de um ideal, um compromisso de vida pessoal, a materialização de um sonho, tenha propiciado terreno fértil para milhares de histórias a partir dos mais de sete mil médicos oriundos da FMV. É com muito orgulho que sempre referendo por onde me ouvem ou escrevo, que a minha origem médica foi na FMV, com matrícula número 1.
P2: Ser dono da primeira matrícula na instituição pode transparecer que isso seja fruto do acaso. Todavia, a história da Faculdade de Medicina de Valença começa com muita luta, conforme ficou evidenciado no documentário “A Saga dos Excedentes – Um Sonho de Medicina”. O senhor chegou, inclusive, a ser classificado como “agitador estudantil” por lutar pela criação da faculdade. Como foi aquele momento até conseguir ser o primeiro estudante matriculado na recém-criada FMV?
AM: Era uma época de extrema convulsão social. Fui alvo da imensa lente do DOPS, que era o Departamento de Ordem Política e Social, fruto da participação e posterior liderança do Movimento de Excedentes de 1968, época de grande tensões, conflitos, passeatas e confrontos, na Cinelândia e adjacências, no centro do Rio de Janeiro. Uma região onde muito da história do país se imbrica com a nossa FMV. Pavimentamos quedas, ganhos, desilusões, sofrimentos, vitórias, tenacidade, determinação e compromisso com o sonho, fatos narrados no livro “Mercador de Sonhos”, uma saga sem igual para a criação de um templo de formação de profissionais médicos, a FMV. Toda documentação daquela época era mantida sob sigilo. Fui informado que os registros relativos às interlocuções do DOPS com as pessoas daquele períodotinham sido abertos ao público. Fui e resgatei dois documentos em que meu nome aparecia como incentivador de manifestações públicas, tais como “Alunos unidos jamais serão vencidos”.
P3: Qual o sentimento ao perceber que a sua coragem contribuiu de forma decisiva para mudar a vida de milhares de colegas de profissão e de uma região inteira?
AM: A principal e maior mensagem é que jamais devemos abandonar nossos sonhos, e lutar pelas nossas crenças e ideais. Aproveitar as quedas para fazê-las propulsoras para os novos saltos. Crer que a coragem, a solidariedade e a mão estendida estarão no cerne de cada médico oriundo da FMV. A certeza que, a partir dos 325 alunos iniciais, guerreiros, com seus desdobramentos na pacata família valenciana, foi o romper de um vulcão de forma saudável, com lavas que se renovam sistematicamente, de forma produtiva, com a qualificação das entidades de ensino que compõem a FAA. O sinergismo dos entrantes com a comunidade valenciana determinou crescimento cultural, social e econômico.
P4: Olhando o curso de Medicina do UNIFAA atualmente, o que vem à sua cabeça?
AM: A FMV já é um diamante. Hoje, a sétima faculdade médica do país, devendo manter-se com o compromisso de excelência a partir de uma formação acadêmica sólida, com o desabrochar de médicos solidários, diferenciados, atentos ao sofrimento humano, e ouvintes, parceiros das queixas de solidão, dores físicas e mentais, promovendo acolhimento aos que os procuram, humanizando o atendimento médico. Ao se comprometer com tais linhas, perpetua-se não só a saga única na criação, e caminhamos para sermos identificados como uma entidade de ensino diferencial, evoluindo sempre para sermos uma Coimbra, uma Harvard ou uma Oxford brasileira.
P5: O que sentiu ao perceber que sua história e contribuição estão perpetuadas por meio de um busto, homenagem prestada pela Fundação Educacional Dom André Arcoverde (FAA)?
AM: Creio ter vivenciado uma das mais diferenciadas emoções da minha vida. Até hoje eu passo por diferentes lembranças dos momentos lindos e afetuosos daquele final de tarde, onde a própria natureza ratificou presença ao nos inundar de matizes de diferentes cores muito, muito, muito lindas. Agradeço, de coração e mente, à Valença. Aos Colaboradores, Gestores, Reitor e ao caríssimo José Rogério Neto, Presidente da FAA, assim como à Associação de Ex-alunos por incentivar e corroborar com a iniciativa. Ainda se faz presente a afirmação do Presidente da FAA: ‘Estamos resgatando a gratidão’. Quando das minhas palavras de reforço à história da FMV, em agradecimento ao ato, convoquei os alunos e ex-alunos para o respeito e a dignidade à prática do exercício da medicina humanística. Lembro que um repentino vento quente e intenso varreu o microfone, acariciou as minhas palavras e as disseminou, levando-as a caminhar pelos diversos rincões da nossa terra Brasil continente.
Aos interessados em conhecer em detalhes a linda história de Arnaldo Mazza na criação da FMV, é indicada a leitura do livro “Mercador de Sonhos”, de autoria de Mazza. Outra opção para se aprofundar neste assunto é assistir ao documentário “A Saga dos Excedentes - Um sonho de medicina, disponível no YouTube, realização da Chapeleiro Produções com o apoio da FAA.

